Existem ameaças no horizonte para superpotência logística?
 
Na semana passada o Congresso BVL em Berlim, celebrou o mercado alemão de logística que se encaminha para outro ano recorde em 2012, impulsionado em grande parte por fortes exportações e fabricação, incluindo a automotiva. O líder do partido da oposição social-democrata, declarou que o país representa uma "superpotência logística". Mas, com reduções adicionais nos mercados globais potencialmente no horizonte, e a crise da Zona Euro chegando aos portões da economia alemã, há claros riscos para a saúde da indústria.
 
Além disso, ao mesmo tempo em que a infra estrutura do transporte na Alemanha foi creditada como possuindo uma vantagem competitiva para a eficiência da cadeia de fornecimento do o país, preocupações foram expressas de que o investimento em infra estrutura é insuficiente, assim, o BVL, a rede da associação de logística alemã, e especialistas em cadeia de fornecimento, querem uma duplicação nos níveis atuais de investimento totais ao longo dos próximos 15 anos.  
 
Depois de um crescimento de 6% em 2011, chegando a um recorde de €223 bilhões (US$290 bilhões), o mercado de logística alemã está prestes a crescer mais de 3% este ano, para €228 bilhões, de acordo com Dr. Raimund Klinkner, presidente da BVL Internacional, que moderou a conferência. Crescimento é também esperado em empregos, de cerca de 100,000 trabalhadores para 2,8 milhões.
 
Quanto a importância da logística e manufatura para a economia alemã, a BVL - associação de logística sem fins lucrativos, financiada pelo governo federal - recebeu um grande número de políticos de alto escalão no congresso. Frank-Walter Steinmeier, presidente do grupo parlamentar dos Sociais-democratas no Parlamento alemão, líder da oposição atual, ex ministro do exterior e vice-chanceler, disse aos delegados que a força da Alemanha esteve tanto em logística, uma vez que o país possui o padrão mais proeminente, quanto em termos de veículos, produtos químicos e engenharia.  
 
"Possuo uma imagem diferente da economia alemã de quando eu era ministro das Relações Exteriores. Eu lembro de ter visto os logos DHL e Schenker em todos os países que visitei", disse ele. "Apenas algumas pessoas sabem que a Alemanha se tornou uma superpotência logística".
 
Ligações globais de logísticas de automóveis na Alemanha
O crescimento global da indústria automotiva alemã, obviamente, indica a ascensão da logística da Alemanha e da cadeia de fornecimento. Matthias Wissmann, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA), e ex-ministro dos Transportes, salientou que a Alemanha não era apenas o único país europeu a aumentar sua produção de automóveis nas últimas duas décadas - com níveis de automóveis de passageiros em ritmo estável, em um recorde de 5.5 milhões de unidades este ano -, mas suas marcas agora também produzem 8.5 milhões de unidades fora da Alemanha.  
 
Mesmo com mais carros 'alemães' produzidos fora da Alemanha do que na mesma, uma grande parte da "criação de valor" desses veículos permanecem na Alemanha, com fornecedores de pequeno e médio porte - o famoso Mittelstand alemão - que desempenham um papel crítico nas exportações. Wissmann destacou que a Alemanha possui o dobro do número de empresas exportadoras como esta na França, por exemplo.    
 
A conferência não tinha falta de provas neste sentido. Um exemplo veio de Dinora Guerreiro, gerente de processamento de materiais e transportes da Volkswagen Autoeuropa em Portugal. Ela revelou que, dos 678 fornecedores de material para os quatro modelos construídos na fábrica, 478 eram da Alemanha e da Europa Central. Cerca de 175 fornecedores eram advindos da Espanha ou Portugal, e apenas 14 da França. VW Autoeuropa utiliza centros de consolidação em Kornwestheim e Baunatal na Alemanha para providenciar o transporte de caminhão para Portugal, e a empresa também havia passado recentemente 10% do transporte terrestre da Alemanha para o transporte ferroviário de longa distância.  
 
O foco da exportação automotiva, tanto para materiais como para veículos, portanto, coloca mais ênfase na qualidade da logística em todos os modos de transporte. Peter Ramsauer, ministro dos Transportes da Alemanha, apontou para o uso das ferrovias para ligar fábrica da BMW em Leipzig à China, por via terrestre através da Rússia, transportando materiais em 23 dias, e com cerca de metade do comprimento de um navio. "Eu estive recentemente com os ministros russos para discutir como reduzir esse tempo para 12 dias", disse ele.  
 
A importância econômica e operacional dos prestadores de serviços logísticos para a indústria automotiva alemã, também foi enfatizada. "A indústria automobilística precisa de uma cadeia logística altamente qualificada, uma vez que 70% dos custos para a construção de um carro vem de fornecedores", disse Wissmann. "A organização dos transportes é decisiva; [prestadores de serviços logísticos] são o óleo nas engrenagens da cadeia de fornecimento [automotiva]".
 
A ameaça de declínio de infra-estrutura
Mas a Alemanha está enfrentando uma série de riscos que poderiam afetar sua proeza logística e crescimento econômico. Dr. Klinkner indicou que o crescimento do PIB alemão está agora previsto para menos de 1%, tanto para 2012 como 2013, enquanto os indicadores de logística da BVL estão em seu nível mais baixo em mais de dois anos, e apontam para perspectivas de declínio.
 
A onda de declínio no mercado europeu de vendas de veículos novos, parece ter também atingido a Alemanha, com uma queda de 11% nas vendas no mês passado. Enquanto a produção e as exportações têm estado relativamente estáveis, produtores alemães também estão enfrentando maus ventos, com a Opel considerando o encerramento da primeira fábrica de automóveis alemã desde a Segunda Guerra Mundial.  
 
Mas, além dos riscos da economia global, palestrantes apontaram para maiores riscos econômicos e competitivos, os quais resultariam de uma falha em manter e atualizar a infra estrutura alemã. Embora normalmente considerado um dos pontos fortes do país, a Alemanha caiu para o 4º lugar no Índice de Desempenho Logístico do Banco Mundial de 2012, após ter estado no topo em 2010.  
 
Klinkner citou estudos recentes que sugerem que a Alemanha pode estar sub-investindo em infra-estrutura em até €7 bilhões por ano. Ele alertou que neste ritmo, a Alemanha não seria capaz de acompanhar os níveis crescentes de carga e de passageiros. "é previsto que o tráfego tenha um crescimento de 74% no transporte de mercadorias, e de 18% no número de passageiros em 2025. Nesse ritmo, seria claramente necessário duplicar o investimento em infra estrutura nos níveis atuais", disse Klinkner, e BVL apoia oficialmente.  
 
O orçamento anual alemão para a infra estrutura, que atualmente é de cerca de €12 bilhões, já teve um aumento de cerca de €1 bilhão no ano passado, de acordo com o ministro dos Transportes, Ramsauer. "Estamos agora negociando no Parlamento para desbloquear mais €1 bilhão, que nos permitirá seguir em frente com os projetos de construção atuais", disse ele.
 
Mas Ramsauer reconheceu que a Alemanha precisava de mais financiamento em todos os modos de transporte, designadamente os canais mais sustentáveis, ​​como a navegação interior. Ele sugeriu que "parcerias público-privadas" (PPP), continuariam a ser uma ferramenta útil para desbloquear mais financiamento.  
 
"PPP pode ajudar em projetos de lançamento que estariam bem abaixo na lista de prioridades", disse ele, e indicou certos projetos portuários como exemplo. Ele reconheceu a crítica de que tais parcerias significariam que o governo poderia perder dinheiro com a receita gerada a partir de tais projetos a longo prazo, mas afirmou que eles eram a melhor maneira de gerar mais investimento em face da diminuição dos orçamentos públicos e da austeridade.
 
Weissmann da VDA, disse que o investimento em infra estrutura seria vital para o sucesso automotivo e econômico da Alemanha. "Sem investimento em infra estrutura, não teremos poder econômico", disse ele. No entanto, ele estava encorajado pela decisão do governo de expandir o orçamento. "Se estes €2 bilhões forem aprovados entre o orçamento do ano passado e deste ano, seria um passo na direção certa", disse ele.
 
Steinmeier, que liderará o seu partido contra os cristãos democratas de Angela Merkel, e atual coalizão de governo em uma eleição geral, em 2013, foi mais crítico. Chamando a política do governo atual de inadequada, ele deixou claro que, em alguns aspectos, logística e infra estrutura estão dentro das linhas de batalhas políticas no próximo ano. Ele alertou que a Alemanha poderia perder sua classificação como campeão de exportação e superpotência logística crescente sem investimento em todos os modos de transporte.  
 
"Nossas conexões modais serão decisivas para sabermos se a Alemanha permanece como o maior exportador ou se desliza para o segundo lugar", disse Steinmeier.